Quase 20 dias em alto mar, 12 pesquisadores entre alunos, docentes, equipe técnica e a exploração de sedimentos e concreções de fosforitas como resultado. Assim foi o último Cruzeiro Científico do Projeto Fosforita, que ocorreu de 26 de novembro a 14 de dezembro de 2022, e percorreu o Terraço de Rio Grande, na região sul do Brasil.
Com início em 2015, o projeto é uma iniciativa da Universidade Federal do Rio Grande (FURG) e do Serviço Geológico do Brasil (CPRM/SGB) que, em parceria com a Universidade Federal da Bahia (UFBA), visam realizar o levantamento de dados geofísicos e oceanográficos e coleta de amostras geológicas na região visitada, para avaliação da ocorrência de depósitos de fosforita.
O professor Dr. Arthur Machado, coordenador do colegiado da graduação em Oceanografia do Instituto de Geociências (IGEO) da UFBA, foi convidado para integrar a expedição, por conta de sua experiência em chefiar as atividades deste cunho. Com ele, as discentes Maria Luíza Matos e Eline Araújo, ambas do curso de Oceanografia, embarcaram no Navio Oceanográfico Atlântico Sul da FURG, rumo ao depósito de fosforita.
Importante elemento na produção de fertilizantes, adubos e suplementos de ração animal, a fosforita é uma rocha formada através de processos de decomposição, com teor de fosfatos significativo. O professor Arthur explica: “o Brasil já tem muitos minerais que são explorados no continente, mas é fundamental descobrir novos recursos”. Ele acrescenta também que, atualmente, o que é mais explorado na margem continental do país é o petróleo e gás. Com isso, a CPRM/SGB com as universidades têm avançado mar adentro para encontrar depósitos de outros recursos minerais.
Para localizar o depósito, o primeiro passo do Projeto foi realizar a investigação da área, por meio de emissão de ondas acústicas, método muito utilizado na Geofísica Rasa. Nos locais onde existem fosforitas, as ondas se propagam de forma específica, o que leva os pesquisadores a identificarem a existência do recurso mineral. Com a confirmação da existência, a equipe do Cruzeiro Científico partiu para coleta direta, em alto mar, que ocorreu entre 200 m e 900 m de profundidade. “A gente conseguiu achar bastante minerais que ratificaram o que os métodos indiretos indicaram. Além disso, esta jazida traz ganhos financeiros e traz investimentos para o Brasil, como ao mesmo tempo representa a expansão dos conhecimentos na área de Oceanografia Geológica", pontuou o professor Arthur que ainda informou que a etapa seguinte do Projeto inclui o detalhamento do tamanho da jazida e a identificação da porcentagem de fosfato nas rochas.
O Cruzeiro Científico também é fundamental para formação dos estudantes, que vêem na atividade a oportunidade de praticar os conhecimentos oceanográficos adquiridos em sala de aula. O docente do IGEO considera que é uma ocasião propícia para fazer networking. “Na experiência embarcada os estudantes convivem com outros pesquisadores que futuramente podem contribuir para o ingresso no mercado de trabalho e desenvolvimento de outras pesquisas”.
A estudante Eline de Araújo nos contou que esta foi a primeira vez que embarcou em um navio oceanográfico, o que lhe proporcionou ganhos não apenas no campo profissional. “Sem dúvida foi a melhor experiência que eu vivi desde que entrei na graduação Oceanografia. Tanto pelo ponto de vista acadêmico, já que vi e aprendi sobre diversas técnicas e equipamentos, inclusive podendo manusear, acompanhar o processo de preparação e montagem e as adaptações necessárias no dia a dia”, expôs.
A ida de Eline serve de exemplo para outros colegas do curso, por isso ela não deixa de incentivar aos que desejam viver esta experiência. “Meu conselho é que meus colegas não percam nenhuma oportunidade. É uma experiência única, em que se aprende demais e leva para vida toda”, garantiu a estudante.
*Fotos: Arthur Machado